segunda-feira, 8 de março de 2010

flores e frutas

meu primeiro 'feliz dia das mulheres' foi hoje às seis da manhã em uma situação inóspita. comentei com uma amiga que esse certamente seria o primeiro e o último, porque provavelmente não encontraria meu pai hoje. e como não moro mais com os meus pais, talvez minha florzinha esteja esperando no balcão da cozinha.

todo dia nove de março era de lei. eu sempre acordava com uma flor a minha espera. uma pra mim e outra pra minha mãe. mas não era típico somente do dia das mulheres. todo final de semana meu pai volta carregado de lírios colhidos por ele pra perfumar a casa. se não são lírios, são margaridinhas. uma das coisas que ele melhor me ensinou foi como enxergar flores do campo, colher, e presentear com elas.

ele sempre nos deu flores e nós sempre colhemos sementes pelas praças e ruas pra ele admirar e plantar, uma a uma. em troca eu recebo mini-abóboras, mini-melancias, goiabinhas vermelhas com bicho. flores e frutinhas pequenas para a filha solteira.

*

já dei flores e frutas pra várias amigas. flores e frutas de pegar pelo mundo, não de comprar. já dei flores a homens que amei muito. mulheres são treinadas pra receber flores, homens não. e parecem ainda mais felizes quando as recebem. porém, se for dada uma fruta a um homem dificilmente ele vai comer. esse é um grande mistério para mim.

mas o melhor presente que meu pai já me deu - e talvez ele nem saiba - não foi flor nem fruta. foi uma forminha antiga de metal para fazer chocolates que ele achou no ferro-velho. e pagou uns 20 centavos nela.

*

só consigo pensar na minha experiência de gênero na minha relação com os homens. e como eu só quero pensar nos aspectos positivos da minha trajetória neste meu dia, quero agradecer até aos calhordas, canalhas e insensíveis que passaram por mim. é por meio deles que eu posso entender a dimensão do mundo feminino, a importância das mulheres para as mulheres e a profundidade possível da solidariedade feminina.

e se for pra agradecer especialmente a alguém pela mulher que eu sou hoje, eu evidentemente agradeceria ao meu pai. por me ensinar a ser sensível ao valor real dos gestos, das intenções e da generosidade.

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